"Um dia eu ainda vou
viver todos os sonhos que eu idealizo nas minhas singelas noites em claro –
sussurrou ela. Melancólica, um pouco neurótica e pessimista. Ela se queixava da
vida, mas sabia que no fundo, não tinha coisa melhor do que viver. E viver tudo
aquilo que cismava em invadir os seus pensamentos em dias nublados, fazendo com
que, ela sonhasse de olhos abertos. Mas, era sonhando que ela vivia. Pensativa,
ela buscava um refúgio em um canto qualquer, algo que pudesse acalentar seu
coração, que tinha o vício em espalhar sentimentos por onde passava como
panfletos entregues nas ruas da cidade. Talvez, ou quem sabe uma das maiores
certezas, era que o problema do choro abafado no final do dia, dos olhos
inchados e do coração calejado seja a intensidade – ela disse baixinho, quase
como um suspiro. Costumava se rotular como uma pessoa cheia de vazio, que
chegava a transbordar. Lá fora chovia, mas o temporal costumava ser dentro
dela, como uma tempestade cheia de raios. Ela tinha a leveza de uma flor, mas no
interior possuía uma granada que poderia explodir a qualquer momento. Dentro
dela existiam vontades que eram capazes de sair saltitando, e ir à busca de se
realizar imediatamente cada uma delas, desde as mais mesquinhas, até as mais
complexas de acontecer. Carregar o peso dos outros nas costas tinha se tornado
um fardo que ela não queria mais segurar, já bastava ter que levar
constantemente toda aquela solidão aninhada dentro de si mesma, ela ainda tinha
que possuir a qualidade que acabou se tornando um defeito por não saber dosar a
forma como ela consegue se importar com tudo ao seu redor. E mesmo assim, ela
conseguia abraçar a solidão com ternura e fazia a sua própria companhia
naquelas noites frias. Conviver com ela mesma já era uma prova de resistência, habilidade
e paciência, pois sabia que colocar profundidade, nem que fosse uma gota no
oceano, conseguia fazer um imenso estrago. Daqueles que pode devastar tudo em
apenas segundos. Mas, se ao menos existisse um lugar seguro para ela se abrigar
quando o mundo resolvesse decepcioná-la seria o suficiente para a solidão se
dissolver aos poucos como um comprimido em um copo d’água. Devaneios como esse
eram desejos escondidos que, vez ou outra vinha à tona em sua mente tão confusa
e distorcida pelo caos que habitava nos pensamentos que chegavam em tardes
vazias e ensolaradas. Falava aos quatro ventos da sua necessidade, quase uma
urgência, de querer ter um lugar preferido no mundo, ou quem sabe, ser o mundo
de alguém."
Por- Nathalia Velozo