Se não fosse meus olhos acompanhados de olheiras por dormir as 2h00 ou
4h00 escrevendo um texto inútil ou lendo mais uma poesia, um verso atoa.
Se não fosse meu sorriso torto de quem já sorriu e chorou para a vida,
chorou de soluçar, se desesperar, pensar em desistir quando ainda nem
existia, quando nem sabia quantas dores estariam por vir. Se não fossem
meus cds empoeirados com todas as minhas velhas músicas que serão sempre
novas melodias doces para meus ouvidos. Se não fossem meus ídolos
velhos, meus ídolos mortos e minha admiração e respeito por cada um
deles e por todos os outros. Se não fosse meu cabelo desarrumado em tons
claros que variam do castanho ao loiro acinzentado. Se não fosse meu
lápis de olho e meu batom vermelho, vermelho para amar e matar, para ser
o 8 e o 80, vermelho de quem seduz sem ter técnicas e sem querer nada
disso, vermelho que é a cor mais quente e mata mais que uma pistola. Se
não fossem minhas palavras, rodeadas de sentimentos, dores, amores,
prazeres, meus textos cercados por doses de bebidas ingeridas de um gole
só em uma noite de quinta feira, meus parágrafos errados e minha
escrita nada sofisticada. Se não fosse meu papo de menina carente que
ganha rápido o tom de uma conversa divertida e sem porquê, quando na
realidade tem razão e intenção. Se não fosse tantos problemas de fábrica
e de crescimento, tantos tombos mal levados, tantos tropeços bem
tomados e ao mesmo tempo tantas vitórias justas, tantas medalhas
escondidas em um olhar, tantos sorrisos de quem perdeu a chance e ganhou
a vida, o desejo da volta por cima, se não fosse por todos os meus
problemas e acertos, minhas qualidades e defeitos não seria eu. E
ninguém iria querer ser tão incorretamente certa, perfeitamente
imperfeita, ligeiramente calma, ninguém iria querer ser tão eu, tão sua.
Por: Geisa Bomfim
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