16 de setembro de 2013

Trecho Cap 13 - A Culpa É Das Estrelas

"— Nós poderíamos ter adiado a viagem — falei.
— Não, não poderíamos — ele retrucou. — De qualquer forma, não estava dando resultado. Dava para sentir que não estava dando certo, sabe? Assenti com a cabeça.
— É uma perda de tempo, a coisa toda — falei.
— Eles vão tentar algo novo quando eu voltar para casa. Eles sempre têm uma ideia nova.
— É — falei, eu mesma já tendo sido a almofada de alfinetes experimental.
— Eu meio que enganei você, levando você a acreditar que estava se apaixonando por uma pessoa saudável — ele falou.
Dei de ombros.
— Eu teria feito o mesmo.
— Não, não teria, mas não dá para todo mundo ser tão incrível como você.
Ele me beijou, e então fez uma careta.
— Dói? — perguntei.
— Não. É só que. — Ele ficou olhando para o teto por um bom tempo antes de dizer: — Eu gosto deste mundo. Gosto de beber champanhe. Gosto de não fumar. Gosto do som de holandeses falando holandês. E agora… Não vou ter nem a chance da batalha. Não vou ter nem a chance da luta.
— Você pode batalhar contra o câncer — falei. — Essa é a sua batalha. E você vai continuar lutando — disse para ele. Odiava quando as pessoas tentavam me encorajar para me preparar para a batalha, mas fiz isso com ele mesmo assim. — Você vai… você vai… viver o melhor da sua vida hoje. Essa é a sua guerra agora.
Eu me odiei por aquele sentimento brega, mas o que mais eu tinha?
— Grande guerra — ele disse com desdém. — Estou em guerra contra o quê? O meu câncer. E o que é o meu câncer? Meu câncer sou eu. Os tumores são feitos de mim. Eles são feitos de mim tanto quanto meu cérebro e meu coração são feitos de mim. É uma guerra civil, Hazel Grace, a gente já sabe quem vai vencer.
— Gus.
Não havia mais nada que eu pudesse dizer. Ele era inteligente demais para o tipo de consolo que eu poderia oferecer.
— Está tudo bem. — Mas não estava, e depois de alguns instantes ele disse: — Se você for ao Rijksmuseum, o que eu realmente gostaria de fazer, mas, a quem estamos querendo enganar? Nenhum de nós consegue passar horas andando num museu. Bem, de qualquer forma, dei uma olhada na coleção de pinturas deles pela Internet, antes de virmos. Se você fosse lá, e espero que um dia consiga ir, veria várias pinturas de pessoas mortas. Veria Jesus na cruz, um cara sendo esfaqueado no pescoço, pessoas morrendo no mar, outras numa batalha, e um desfile de mártires. Mas nem. Uma. Criança. Com. Câncer. Sequer. Ninguém batendo as botas por causa da praga, nem da varíola, nem da febre amarela, nem nada, porque não existe glória na doença. Não há propósito nela. Não há honra em se morrer de.
Abraham Maslow, apresento a você o Augustus Waters, cuja curiosidade existencial superou a de seus irmãos bem-alimentados, bem-amados e saudáveis. Enquanto a massa de homens seguia em frente levando vidas totalmente inescrutáveis de consumo descabido, o Augustus Waters examinava a coleção de pinturas do Rijksmuseum a distância.
— O que foi? — o Augustus perguntou após um tempo.
— Nada — respondi. — Só… — Não pude completar a frase. Não
sabia como. — Só gosto muito demais da conta de você.
Ele deu um sorriso torto, o nariz a centímetros do meu.
— A recíproca é verdadeira. Será que daria para você esquecer isso tudo e me tratar como se eu não estivesse morrendo?
— Não acho que você esteja morrendo — falei. — Só acho que você recebeu uma pitada de câncer.
Ele sorriu. Humor negro.
— Estou numa montanha-russa que só vai para cima — falou.
— E é meu privilégio e minha responsabilidade seguir nessa montanha-russa até o topo com você — retruquei.
— Seria totalmente absurdo tentar fazer amor agora?
— Tentativa não há — falei. — Fazer é que há.
"

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