Li uma crônica dia desses que descrevia o cara dos sonhos de alguém.
Nela a autora certamente desabafava sobre os maiores erros e acertos dos
homens que passaram por toda sua vida. Existindo ou não, no final do
texto, consegui entender exatamente o que naquele momento ela (ou a
personagem) procurava. Passei alguns minutos imaginando também como
seria o cara dos meus sonhos. Senti um vazio chato por já não fazer
ideia de como descrevê-lo com palavras. Então, o que era apenas um
pensamento se tornou um desafio, e cá estou escrevendo sobre ele – seja
lá onde estiver.
Acho que é isso. Não quero mais um amor. Quero alguém que me entenda
até nas horas que eu já não consigo fazer isso sozinha. Não quero frases
prontas, aliança e rosas vermelhas. Quero um abraço em silêncio e com
falta de ar. Não quero ter que mostrar o caminho sozinha, quero aprender
a não me importar tanto com a direção.
O cara dos meus sonhos sabe mais do que eu sobre a vida. É justamente
isso que me faz querer estar sempre ao seu lado. Ele gosta dos pequenos
e quase imperceptíveis detalhes. Enxerga os meus, e enquanto brigo por
coisas bobas do cotidiano, os repara em silêncio. E nesses momentos,
ignora absolutamente tudo que digo. Depois me beija causando uma amnésia
temporária – até eu entender que não vale a pena ter sempre razão.
Não me importo tanto com a cor dos seus olhos. Mas me derreto pela
maneira com que eles me encaram quando acham que estou distraída. Também
não me importa com a cor dos cabelos. Torço é para que ele não seja tão
cuidadoso com eles – vou adorar bagunçá-los quando estiver com
tédio. Ele não se preocupa tanto com o corpo. Não compra besteiras todo
dia. Ama fotografia, livros e alguma outra coisa idiota que eu
provavelmente odiarei (e respeitarei) no futuro – talvez seja futebol,
videogames ou sei lá, rock pesado.
Ele faz carinho no meu braço enquanto durmo. Ama viajar e ir ao
cinema. Tem orgulho dos meus sonhos e faz questão de nunca se tornar um
obstáculo. Ele não tem histórias mal-resolvidas com ninguém do passado.
Já esteve dos dois lados – foi canalha e coitado. Viveu o que tinha pra
viver, e no momento em que finalmente estiver ao meu lado, estará.
Plenamente.
É nessa mistura de tempos verbais, que desabafo sua improvável
existência. Ele não é príncipe, não é sapo e nem é meu. É do mundo. Por
isso vou dormir e acordar, até chegar a hora certa de vê-lo (ou
revê-lo). Quero estar pronta por dentro e por fora. Pra no meio dessas
grandes multidões de todo dia, a gente se esbarrar, olhar pra trás ao
mesmo tempo e pensar: É você.
Livro "Depois dos quinze" - Bruna Vieira
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